A imagem da
mulher vive mudando, em cada época ela pode ser retrata de uma maneira. Já
houve um tempo, eu que a mulher precisava ser resignada, ter sua vida toda
dedicada aos filhos e ao marido, não podia trabalhar, estudar e não tinha
direito ao voto. Mas muitas mudanças ocorreram, muita coisa foi conquistada, e
hoje a mulher é dona de si, trabalha, tem seus direitos e pode estar em
qualquer lugar que desejar. No cinema não foi diferente, essas mudanças também
ocorreram, como dizem que a arte imita a vida, os filmes de cada época mostram
distintas imagens e características femininas.
O estereótipo
feminino sempre está ligado à fragilidade e a um determinado padrão de beleza.
Nos filmes, a maioria das mulheres são brancas, bonitas e magras. Para o
produtor audiovisual, fotógrafo e radialistaTiomkim Oswald Filho a indústria
cinematográfica, em seus enredos, ainda trabalha com arquétipos ou estereótipos
como a jovem inocente, a vamp, a prostituta e a divina. “Mesmo com o grande
avanço da emancipação feminina, nos anos 60, as mulheres do cinema ainda são
construídas com base nesses estereótipos, escondendo-se atrás de um romantismo
exagerado e sem nenhuma indicação sobre o modo real de sua vida”, disse.
A professora da
UFPR, Maria Rita de Assis César, coordena um núcleo de pesquisa sobre gêneros,
para ela há uma enorme variedade de abordagem das mulheres. “O cinema mais
conservador dispensará um tratamento conservador para as mulheres, mas muitos
filmes vêm portando a importante bandeira do feminismo, com exceção dos
“blockbusters”, que, por serem entretenimento para as massas, reproduzem
valores do imaginário tacanho das mesmas”, disse. Ela explica, ainda, que as
produções do oriente médio, por exemplo, vêm já há algum tempo tomando a
questão do feminismo e da condição feminina como um importante tema. “Veja como
isso é interessante, falo do cinema iraniano, em país com leis e costumes
bastante opressores para as mulheres”, analisa.
LINHA DO TEMPO
Maria Rita diz
que a temporalidade muda o cinema e muda a maneira de tomar os sujeitos e as
temáticas, tomando como exemplo o chamado cinema hollywoodiano, hoje denominado
de blockbuster. “Nos anos 30, 40 e 50 as mulheres eram retratadas como “femme
fatale”; profissionais liberais de sucesso; mulheres livres e fortes. Entretanto,
a partir dos anos 60 as mulheres são transformadas em excelentes donas de casa,
esposas fiéis e devotadas mães de família”, explica. Para ela, essas mudanças
têm uma profunda relação com as transformações da sociedade norte-americana na
fase pós-segunda Guerra. “Todavia, o cinema francês, a nouvelle vague e o
neo-realismo italiano, ambos do mesmo período, vão questionar o lugar da mulher
na sociedade e lançar as bases para uma discussão sobre o papel da mulher em um
mundo que se transformou por completo”, atesta.
Para Filho,
desde os primórdios do cinema usou e abusou da sensualidade feminina, como
chamariz para as plateias ávidas por emoções e seduções. “Nos anos 30 e 40
surgiram personagens femininas marcadamente vilãs. Já os anos 50 era um tempo
de divas românticas, elegantes. Os anos 60 foram os anos da rebeldia, das
anti-heroínas. A partir dos anos 70
a mulher consegue se libertar da imagem da diva sensual
que os estúdios cinematográficos exploraram em excesso nas décadas passadas”,
explica. Ele conta que essa é a época de “Norma Era”, filme dirigido por Martin
Ritt em 1979 e que rendeu o Oscar de Melhor Atriz para Sally Field. “O filme
retrata uma operária de fábrica em luta com o sindicato por melhores condições
de trabalho. Um papel feminino que mostra uma mulher de fibra numa América em
ebulição”, disse.
PRECONCEITO
A professora
fala também sobre o preconceito dentro do cinema, sobretudo no massmidea, e
para ela há cinemas que reinventam continuamente o preconceito de gênero e
orientação sexual. “O cinema é lugar de reflexão, de pensamento, de produção
intelectual, quando se recusa esse papel, o filme soará sempre preconceituoso,
burro e arrogante”, disse. Para ela o cinema é uma técnica importante de
produção das identidades de gênero, isto é, o cinema não somente reproduz, mas
produz significados para a subjetividade feminina. “Desse ponto de vista, não
há diferença entre o cinema de arte e o entretenimento, ambos corroboram a
produção das identidades de gênero por meio de um conjunto de tecnologias
sociais que estão condensadas na narrativa e nas técnicas do cinema”, explica.
Para o produtor,
o principal preconceito cinematográfico está na questão da idade, que é um tabu
para um cinema que explora a juventude e a beleza. “Apesar da evolução da arte
cinematográfica, não existem muitos papéis principais para mulheres da terceira
idade. Nas franquias das séries “Crepúsculo” e “Jogos Vorazes”, as personagens
são extremamente jovens. Foram um sucesso comercial, mas a qualidade cultural é
duvidosa”, atesta.
CINEMA ATUAL
No cinema
contemporâneo, Maria Rita destaca as produções europeias, pois, segundo ela há
mulheres incríveis sendo retratadas. “No último filme dos irmãos Dardenne, em que Marion Cotillard
faz uma mulher operária, mãe e deprimida, a condição feminina no mundo
contemporâneo é debatida com muita
seriedade e lucidez”, declara. Nas produções nacionais, ela indica filmes como
“O Céu de Sueli”, de Karin Ainouz. “A mulher pobre nordestina contemporânea, se
reinventa e produz saídas tanto para a sua condição de opressão, como também
para o sonho e o lírico”, finaliza.
ATRIZES
O produtor Tiomkim Oswald Filho cita algumas atrizes que foram destaques e símbolos de sua época. “A primeira vamp do cinema foi Theda Bara, musa do cinema mudo que usava uma maquiagem exagerada, com longos cílios, olhos pintados de preto, influenciando a criando moda na década de 20. Já nos anos 30 quem reina absoluta é Joan Crawford, uma atriz de forte personalidade e que interpretava papéis de mulheres voluntariosas e determinadas. Na década de 40 é o tempo de Bette Davis, que ficou famosa por interpretar vilãs e heroínas marcadas por tragédias. Os anos 50 foi o período da deusa Marilyn Monroe, explorada ao máximo como a maior sex symbol do cinema. A partir dos anos 60, com a queda do sistema dos grandes estúdios e a chegada das produções independentes, da nouvelle vague e do cinema novo, as novas musas eram representadas por Sophia Loren, Brigitte Badot e Audrey Hepburn. No Brasil quem estava em alta era a atriz Norma Benguell, que viveu a primeira cena de nudez explicita do cinema brasileiro, no filme de Ruy Guerra, Os Cafajestes, de
Produção: Capullo Produções
Texto: Gabrielle Russi
Edição: Fábio Carvalho
Imagens:Thauane Mayara
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